"o brasileiro é antes de tudo um forte fazedor de deserto" Bernardo Élis
Tantas vezes ao passar pude sentir a graça de tua insinuante beleza coberta de flores rosadas.
Quando nas ásperas tardes de um prolongado estio eras sombra acolhedora para alívio dos viventes
E lágrimas misteriosas choravas serenamente no silêncio deste vale, tuas sementes curativas espalhavas generosa pelo vento.
Hoje lanço meu lamento por estares assim inerte à beira de uma estrada desolada e poeirenta do assentamento urbano.
O golpe do machado do homem sem raiz estúpido inconseqüente atingiu o fluxo o cerne de teu tronco e a alegria, a vida plena que semeavas estancou-se, minha linda sucupira.
Quando é que nossa gente que depende tanto das árvores terá olhos pra esta nobreza e defenderá a vida e o encanto que esses seres milenares propagam?
Uma observação: não é figura de linguagem de poeta enternecido... a sucupira tem essa característica rara de que caem gotas d'água de suas flores em plena seca... eu não acreditei até que um dia fui pintar em sua sombra e pude confirmar que ela chora, deveras.
Apeei do meu cavalo Sob o ipê-roxo copado Enquanto o Zaino pastava, Eu fiquei acocorado Imaginando o que sente Um ipê abandonado À sua volta é ermo Desprovido de vizinhos Somente terra e areia Que açoitados pelo vento Sufocam o ipê de poeira
Suas raízes grandes e retorcidas Que brotam aqui e acolá Esfoladas pelos cascos Renitentes da vacada Reina só o ipê-roxo Distante de amigos e parentes Que em seu tronco ferido Chora resinas de dor Levantei-me pra me ir Quando ouvi um suspirar De tristeza e comoção,
Sem jeito, escabreado Enlacei o pobre moço Dei-lhe um abraço apertado
O pobre se agitou Por certo emocionado Deu-me um banho de flor roxa Que me deixou abobado Bem, já lá vinha a noitinha Assoviei pro meu Zaino De um sarto sentei na sela Dei tchau pro meu novo amigo Que me retribuiu num muxoxo